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farm visita – maíra senise
Estava tudo ali ao redor, as influências, as referências, toda forma de arte – da primera à sétima – transitava pelo universo de Maira, habitava sua casa, a esperava na esquina, quase tomava-lhe pela mão. Talvez por isso ela tenha escapado pela tangente.
Foi como estilista que ela encontrou um espaço que era só seu, e entre tecidos e moldes, botões e estampas… foi construíndo uma história própria com a sua marca VAUM e emprestando traços pra Andrea Marques, Maria Filó e A.Brand, não fossem uns certos bichos estranhos que teimavam em pintar pelo caminho.
Pelos cadernos, em rascunhos, virando as páginas, até crescerem pelos papéis, virarem zines, telas e finalmente ganharem vida própria e dominarem a cena da Maíra, não havia mais pra onde fugir.
E quem estava pensando em fugir? Aí então ela já tinha compreendido a força do que criava, muito mais que formas amorfas pra escorregar a caneta antes de mais um vestido, eles eram a obra principal.
Um pouco de tudo que ela trazia lá de dentro, de casa, do mundo, de si própria, da mãe e do irmão cineastas Paula Gaitán e Eryk Rocha, do pai, o artista plástico Daniel Senise e da irmã cantora Ava Rocha – da primeira `a sétima arte.
E era tão ela, e era tão forte, tão genuíno e real, que em pouco tempo tomou seu espaço, se transformou em prática e ofício, com todo esforço, talento e intenção.
Que pudemos ver ao vivo na ótima expô Vale Cego, recém exibida na casamata da Comuna, na capa do disco de sua irmã, e daqui a pouco, quando a moça terminar a temporada de estudos em NY, passaremos a ver em outras paredes pelo mundo.
Os bichos da Maíra são esquisitos e lindos, causam estranhamento e aflição, mas ao mesmo tempo despertam desejo, vontade de sair passeando com eles, de ter em casa, usar e guardar um pouco desse universo tão livre e bonito.
São pinturas a óleo, rabiscos, desenhos, cerâmicas utilitárias, acessórios, seres e pequenos objetos esculturais que trazem como inspiração algo maior e ao mesmo tempo tão simples: o instinto.
O que existe de mais cru e primitivo, a vida selvagem, traços infantis e desenhos rupestres, combinados a belos tons guiados pelo inevitável olhar de moda, as viagens, as outras viagens, tudo isso junto, numa mistura que poderia ser no mínimo muito interessante.
E é. é a Maíra Senise, é a Maíra purinha, em essência, belezas e estranhezas. É punk, elegante, colorido, assustador e incrível, como tudo que a gente ama e questiona.
Como tudo que a gente devia querer.
01.10.15